domingo, 15 de agosto de 2010

Três anos de Homenagens ao Vaqueiro.

Em Santa Filomena, durante a festa da Padroeira, a noite do dia 14 é reservada para homenagear os vaqueiros - um personagem muito importante na história do Piauí - principalmente para a história do sul do estado. As primeiras cidades piauienses surgiram a partir das fazendas de gado. A pecuária era a atividade mais comum na época. Nos séculos XVIII e XIX, essa era a principal atividade econômica do estado. O trabalho do vaqueiro era fundamental. Trabalhador livre, enfrentava a dura labuta com o gado diariamente. Como havia muitas pastagens naturais, o gado era criado solto, e, com isso, o vaqueiro passava dias campeando, para manter o gado bem nutrido.

Em Santa Filomena essa atividade ainda é comum. O vaqueiro continua sendo uma figura importante para a sociedade filomenense. Tanto que a noite do dia 14 passou a ser a "Noite dos Vaqueiros". Nesse ano, houve muitas atrações. Logo de madrugada, os fogos anunciava a cavalgada pelas ruas da cidade. Portando trajes que relembra a cultura vaqueira, montados em animaise vestidos na camiseta do evento, os participantes fizeram uma caminhada pelas ruas da cidade. No desfile, se fizeram presentes vaqueiros, pecuaristas, autoridades locais. Todos juntos num só objetivo: o de não permitir que a imgem do vaqueiro se apague da memória dos filomenenses. Houve em seguida um café da manhã coletivo. Durante todo o dia o espaço cultural da igreja foi palco de um forró à moda antiga, com sanfona e músicas à caráter. À noite houve uma bela celebração na igreja e em seguida um grande leilão de bovinos. Além disso, o forró continuou no espaço cultural da igreja até às três da manhã com muita alegria e diversão. O povão marcou presença! Toda a renda adquirida durante todo o evento será doada à Igreja, que no momento está desenvolvendo um projeto social na cidade - a construção do CISEC, um centro de interação social, cujo o objetivo é desenvolver atividades culturais e promover a educação.
O vaqueiro representa bem o povo filomenense. Povo que luta e trabalha. Trabalha muito. Infelizmente essa atividade foi e ainda está sendo desvalorizada. Esses homens que são homenageados enriqueceram muita gente. Distribuíram riqueza, enquanto usufría de uma vida dura, com muito pouco retorno financeiro. Passavam a vida inteira trabalhando praticamente de graça, sem muitos direitos, cuidando do gado alheio. Isso é o retrato da realidade de muitos municípios piauienses, principalmente a dos mais atrasados como Santa Filomena. O vaqueiro representa sim, a luta, o trabalho, a disposição, o lucro, como também representa uma sociedade movida pelos interesses dos grandes latifundiários, donos das terras e do gado que eles cuidavam. Essa cultura de dependência e clientelismo contribuiu para a estagnação política e social de muitos municípios.
Espero que essa homenagem tão oportuna possa também fazer com que a sociedade reflita e busque mudar a maneira de ver o coletivo, o desenvolvimento, a justiça, seguindo o exemplo dos vaqueiros trabalhadores e honestos, mas deixando para trás a cultura de dependência e de apatia diante da realidade. Como dizia o nobre Jair Rodrigues, na música Disparada: "Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar".

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